Por Carlos Meni
Temos de admitir: o mercado está
muito carente de mão de obra especializada, e os profissionais capacitados,
disputados por empresas e escritórios contábeis, acabam inflando os salários na
área.
Invariavelmente, recebemos muitos
questionamentos de contadores, mas um deles chamou bastante a atenção, por
demonstrar uma percepção acertada da atual realidade. Ao questionar se a falta
de mão de obra não está diretamente ligada à baixa remuneração do mercado,
nosso amigo contador faz uma análise acurada da situação.
Segundo ele, "nas turmas concluintes
das universidades a maioria dos alunos não segue a carreira de contador. Já faz
muito tempo que estamos perdendo a mão de obra contábil; os escritórios estão
disputando entre si por mão de obra – e, às vezes, não é nem pela melhor. Mas
se o mercado continuar pagando tão mal, a falta de mão de obra qualificada vai
cada vez mais aumentar, pois não está sendo atrativo para os estudantes. Os
bons profissionais não querem mais trabalhar para escritórios, e estes convivem
com problema terrível da constante rotatividade de seus funcionários pela
insatisfação financeira. O problema talvez não esteja apenas na qualidade de
ensino, acredito que tenhamos agora o começo de uma nova estruturação na
área".
Simplesmente fascinante a clareza
e a racionalidade da análise, pois traduz fielmente o atual cenário do mercado
contábil nacional frente aos desafios que se impõem em uma economia como a
nossa.
Aproveitando esta abordagem,
vamos falar um pouco mais sobre o assunto, sob a ótica do surgimento do projeto
SPED, que acabou criando uma necessidade por conhecimento jamais vista no
segmento, expondo as deficiências que existiam e não eram identificadas.
Com esta supervalorização podemos
estar incorrendo num erro no qual qualquer profissional com um pouco de
capacitação seja mais valorizado do que deveria. Esta claro que o projeto SPED
veio para dar uma sacudida na qualidade da qualificação das pessoas dentro da
estrutura operacional das empresas e dos escritórios contábeis.
Não podemos deixar de reconhecer
que a estrutura dos escritórios contábeis, os salários e benefícios oferecidos
pelo segmento atualmente não são motivadores para novos profissionais, no
momento de escolher investir numa carreira.
Duas variáveis que ajudam a
motivar profissionais a escolher uma carreira são remuneração e desafio. Hoje o
salário oferecido no mercado contábil em geral não é compatível com carreiras
muito mais atrativas e menos estressantes, enquanto o desafio na área é
gigantesco e inúmeras oportunidades estão aí para serem exploradas por
profissionais inteligentes e capacitados.
Existem muitas perguntas sem
respostas e várias abordagens podem nos levar a diversas reflexões, mas creio
ser importante explorar agora dois momentos: o hoje e o amanhã, ou o presente e
o futuro.
O SPED mostra claramente dois
desafios que podem ser separados em duas etapas: uma, que vamos chamar de hoje,
significa aquilo que uma empresa gera de informações corretamente, qual
esforço, ferramentas, adequações, investimento e conhecimento necessários, e
outro, o amanhã. Atualmente, está muito difícil convencer e preparar uma
empresa para que as informações sejam saneadas, monitoradas e geradas com
qualidade e consistência desde seu nascedouro, seja uma nota fiscal eletrônica,
um cupom fiscal, um conhecimento de transporte eletrônico, ou qualquer outro
documento.
Converse com qualquer contador e
veja que o hoje tem sido uma experiência muito difícil, trabalhosa, onerosa e
desafiadora, mas uma vez superada colocará a empresa num amanhã muito melhor e
que se transformará numa rotina normal como era antes do SPED.
Isto, entretanto, com uma
diferença: a empresa passou por uma transformação que pode ter trazido muitos
benefícios, chegando até mesmo à redução de impostos que eram pagos em função
de erros não detectados pelos sistemas e pelo distanciamento do escritório
contábil da operação de seu cliente.
O tempo decorrido entre o hoje e
o amanhã será determinado pelas iniciativas e planejamento, pode ser de alguns
poucos meses ou até mesmo anos, dependendo do nível de compreensão do
empresário para a realidade e da qualidade dos trabalhos executados.
Mas se o amanhã pode se tornar
algo rotineiro, qual será a capacitação ou qualificação exigida dos
profissionais que os escritórios contábeis terão que ter em suas áreas fiscais,
que trabalhos e atividades terão que desenvolver frente a esta nova rotina e
qual será a remuneração justa?
A equação é simples de ser
visualizada imaginando uma linha do tempo, onde uma empresa uma vez adequada ao
SPED, fazendo a coisa certa, reduz o trabalho e o esforço, passando por uma
manutenção e acompanhamento menos trabalhosos e onerosos, levando a uma nova
realidade, uma rotina normal dentro do negócio.
No planejamento da estrutura e de
salários de sua área fiscal, o empresário contábil não pode tirar os olhos do
hoje, mas deve, paralelamente, ir visualizando como será o seu amanhã.
http://www.administradores.com.br
via www.joseadriano.com.br
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Compartilhando idéias e experiências sobre o cenário tributário brasileiro, com ênfase em Gestão Tributária; Tecnologia Fiscal; Contabilidade Digital; SPED e Gestão do Risco Fiscal. Autores: Edgar Madruga e Fabio Rodrigues.