Carlos Brasil, de 45 anos, concilia mestrado em Administração Pública com a rotina de trabalho |
Para aprimorar práticas, profissionais que trabalham em órgãos do governo buscam se especializar com pós-graduações
Aos 45 anos, Carlos Brasil vira noites para conciliar as atividades do mestrado profissional em Administração Pública com a rotina de seu trabalho diário. No topo da carreira como analista judiciário no Tribunal do Justiça do Rio de Janeiro, onde trabalha há mais de 20 anos, ele não recebeu nenhuma exigência da chefia nem terá aumento de salário por causa da pós-graduação na Fundação Getulio Vargas (FGV).
Cursos como esse que Brasil está fazendo atraem funcionários inquietos na carreira pública, que retomam os livros e os cadernos para repensar as práticas e aprimorar o desempenho no setor. "As pessoas falam que sou maluco. O dinheiro é para fazer a gente feliz e eu gosto de estudar", diz. Interessado na área de inovação dentro do setor público, Brasil conta que se anima em imaginar como modernizar a estrutura do órgão onde trabalha. "Gosto de pensar soluções que não gastem, ideias caseiras para reformular o tribunal."
Disciplinas sobre orçamento no setor público e gestão social e de pessoas estão presentes nos cursos de pós-graduação na área. O foco é capacitar melhor os gestores para as atividades que desempenham e reduzir defasagens de conhecimentos para quem já está na carreira pública. No curso na FGV, os estudos relacionados à governança ajudam os alunos a pensar a relação entre os atores do setor. "Vejo que atitudes mudam outras atitudes. Você pode contagiar as outras pessoas e isso é uma forma de mudar", conta Brasil.
No tribunal, ele acredita que o desafio seja tornar o processo mais democrático, com decisões tomadas de forma coletiva. "O Judiciário tem uma cultura própria, hierárquica, mas que não deixa de permitir coisas novas. Quando gerimos um setor, a hierarquia depende muito da relação com o seu círculo mais próximo."
Para o coordenador do Mestrado Profissional em Administração Pública da FGV, Roberto Pimenta, o grande número de funcionários que ingressam na gestão pública pode explicar a crescente necessidade de buscar mais conhecimento: "As pessoas entram pelo concurso e se deparam com a realidade, que é muito mais complexa do que pensavam", acredita o coordenador.
Contexto. Entender o mecanismo da administração pública motivou o sociólogo Gustavo Oliva, de 34 anos, a cursar a pós-graduação em Gestão Pública na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP). Ele conta que o curso oferece ferramentas práticas para aplicar na rotina de trabalho. “Mas o mais interessante é permitir um olhar crítico sobre a administração pública, entendendo o setor por meio de seus diversos atores”, explica o analista da Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp).
Gustavo Oliva, 34 anos, sociólogo |
Contas do Estado. Além do estudo sobre o ciclo das políticas públicas, outra aposta do curso é a formação sobre as contas do Estado. Otimizar o uso do dinheiro público é uma das demandas dos profissionais nessa área - cada vez mais cobrados pela eficiência e enxugamento da máquina do governo. O conhecimento ajuda os gestores, por exemplo, a entender a lógica dos processos de licitação.
"Há uma defasagem muito grande da maior parte dos alunos de conhecimento nessa área de Finanças Públicas", avalia a coordenadora da pós da FESPSP, Cecília de Almeida Gomes. "Usar bem o dinheiro do Estado é uma questão mais estratégica. O curso traz uma capacidade de reflexão sobre as práticas estabelecidas."
Atraídos por compreender a lógica dos processos na gestão pública, os profissionais do setor privado também procuram as especializações. Com a expansão dos projetos de parceria público-privada, a compreensão mútua pode ser ainda mais importante.
À frente de projetos em uma empresa de software, Marylly Araújo, de 27 anos, cursa a pós em Gestão Pública na FESPSP. Ela conta que atende vários órgãos do setor público, mas conhecia pouco da área. "A visão do gestor público não é tão imediatista quanto no setor privado. As diferenças estão ficando mais claras. Assim, consigo conversar melhor com esse público e ganho a confiança de alguns clientes."
CARREIRA ESTÁ EM ALTA NOVAMENTE, ACREDITA PROFESSOR
Professor da USP, Fernando de Souza Coelho vê políticas saindo do papel
Para o professor da pós-graduação em Gestão de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP) Fernando de Souza Coelho, o momento político do País contribuiu para valorização novamente da carreira. "Várias políticas começaram a sair do papel. Foi necessário constituir um corpus burocrático", diz. Embora a previsão seja de retração dos concursos públicos nos próximos um ou dois anos, a tendência é de aumento das oportunidades na carreira. Segundo ele, as chances devem crescer em cargos sem concurso, como os de confiança, por causa da busca por profissionais mais técnicos.
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SERVIÇO
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Curso: Mestrado Profissional em Administração Pública
Inscrição: Agosto de 2015
Preço: R$ 54.655 (total)
Pré-requisito: Curso superior
Site: www.ebape.fgv.br
Curso: Pós-graduação em Gestão Pública
Inscrição: Início de junho
Preço: R$ 730,34 (mês)
Pré-requisito: Curso superior
Site: www.fespsp.org.br
Curso: Pós-graduação em Gestão de Políticas Públicas
Inscrição: De 5 a 9 de outubro
Preço: Gratuito
Pré-requisito: Teste emitido pela Associação Nacional de Pós-Graduação em Administração
Site: www.each.usp.br
JÚLIA MARQUES - O ESTADO DE S. PAULO
Fonte: O ESTADO DE S. PAULO
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