SÃO PAULO
Diante da crescente demanda pela inclusão de novas tecnologias nas escolas - 35% das instituições particulares brasileiras incentivarão o uso de tablets nas salas de aula até o fim de 2014 -, as editoras responsáveis pela confecção de livros didáticos se movimentam para aperfeiçoar a evolução de sua plataforma: o livro digital, popularmente conhecido como e-book. Apesar de ainda não existir um modelo de negócio definido para este formato, as grandes do setor já investem no desenvolvimento deste tipo específico de produto educacional.
É o caso da FTD. Uma das líderes na quantidade de títulos aprovados no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) 2014, a editora já investe pesado na confecção e elaboração de livros em formato digital. De acordo com Fernando Moraes Fonseca Jr., gerente de Inovações e Novas Mídias da FTD, a companhia já está preparada para uma mudança de plataforma no setor. "A FTD, do ponto de vista tecnológico e do ponto de vista editorial e pedagógico, está preparada para esta evolução que se aproxima nas salas de aula brasileiras", revela.
O executivo da FTD confirma que a editora já investe na pesquisa e no desenvolvimento de livros digitais há pelo menos dois anos. "O investimento feito pela editora é muito grande. Hoje, nós temos quase 50 pessoas - uma seção que não existia até então - trabalhando na produção de conteúdo digital", ressalta.
Apesar do crescimento do interesse das editoras e das escolas por livros digitais, ainda não existe um modelo de negócio definido para a comercialização deste produto. "Nós vivemos um momento de instabilidade tecnológica do ponto de vista do livro, o contrário da estabilidade centenária do papel. Ainda não existe maturidade. As editoras estão aprendendo a lidar com esse novo formato do ponto de vista de negócio", conta Fonseca.
Para Susanna Florissi, consultora na área de livros didáticos e diretora do Comitê do Livro Digital da Câmara Brasileira do Livro, o negócio do livro digital ainda evolui de maneira lenta no País, mas as editoras precisam estar atentas às mudanças. "As vendas digitais ainda são ínfimas (...) Mas só vão sobreviver no mercado as editoras que acompanharem esta evolução, e com coragem de ousar", analisa.
Susanna afirma que essas mudanças no modo como as editoras comercializam seu produto está no visor de especialistas de vários pontos do planeta. "Sempre acompanho a Feira do Livro de Frankfurt e todos nós ainda queremos entender como e quem vai ganhar dinheiro com esta mudança. Não se fala mais em livro, e sim em conteúdo".
Para a espanhola Marifé Boix Garcia, vice-presidente de Business Development para o sul da Europa e América Latina da Feira do Livro de Frankfurt, a situação no exterior não é muito diferente da vivida no Brasil. "As escolas estrangeiras em geral não estão muito mais avançadas que no Brasil", ressalta.
E as editoras têm motivos para focar parte significativa de seus esforços na confecção de livros didáticos digitais. De acordo com a Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), 35% das salas de aula de instituições de ensino privadas do País vão incentivar o uso de tablets durante o processo de ensino. A taxa era de 23% em 2013. Na visão de Amábile Pacios, presidente da Fenep, a evolução tecnológica vem para ficar. "É um caminho sem volta. Agora a criança pode carregar vários cadernos e livros dentro de um único aparelho portátil. Os alunos não terão mais tanto peso em suas mochilas", analisa.
Além da compactação, o e-book tem outra vantagem gritante em relação ao livro convencional: a interatividade. Na visão de Amábile, a escola e aluno ganham com a inclusão de material didático digital nas salas. "Estes livros digitais interativos agregam muito valor na aprendizagem. A geração que está hoje na escola tem uma destreza muito grande com novas tecnologias. Você tem a possibilidade de usar profundidade, 3D, ajuda muito. É uma tendência que chega para ficar nas escolas", conta.
Amábile não crê numa mudança drástica do livro didático convencional para o e-book no tablet. Na visão da presidente da Fenep, os dois formatos ainda viverão juntos nas salas de aula por algum tempo. "Ainda existe uma conciliação entre o livro digital e o livro de papel nas escolas", diz.
Ensino público
Nas escolas públicas, o processo de adesão aos tablets e livros didáticos digitais é mais lento. Mas o governo federal, por meio do Ministério da Educação (MEC), tem tomado medidas para incentivar o maior uso de novas tecnologias. O MEC comprou 460 mil tablets que serão distribuídos para professores em toda a rede pública de ensino, além de exigir que as editoras participantes do PNLD também produzam conteúdo didático digital.
De olho nos passos do Ministério da Educação em fomentar o uso da tecnologia nas escolas públicas, empresas apostam nesse nicho, como a Positivo Informática, uma das principais fornecedoras de tablets para o governo. No terceiro trimestre do ano passado, a empresa conta que a venda de hardwares para o governo brasileiro representou 34,9% do total comercializado pela companhia, contra 31,8% no mesmo período do ano anterior. "A área de tecnologia educacional tem participação importante nas receitas da Positivo Informática. Estamos presentes em mais de 14 mil escolas do País", como explicou Elaine Guetter, que é vice-presidente da divisão de tecnologia educacional da Positivo Informática.
Anderson Neco
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