Manhã de sábado ensolarada. Você resolve conhecer a nova área de lazer da cidade. Liga seu smartphone, coloca sua pulseira fitness, digita o endereço em seu aplicativo preferido de mapas mas, antes de sair, seu 'assistente pessoal', avisa que o trânsito no local está interrompido. Você consulta rapidamente as linhas de ônibus mais próximas na app da empresa responsável pelo transporte público da sua cidade, mas resolve ir a pé até o local – afinal, as linhas estão com atraso.
No caminho até lá, passa na padaria em que te chamam pelo nome e faz um check-in, publicando nas redes sociais: 'melhor café da cidade'. Chega na nova área de lazer e caminha por todo o parque, enviando, antes de voltar para a casa, o caminho percorrido e as informações coletadas pela pulseira fitness para seus amigos dizendo: 'vida saudável é isto', mas não sem antes passar no supermercado para aproveitar a promoção que chegou via SMS quando estava próximo a ele.
O que esta pequena história (que pode ser SUA história) nos mostra? Um futuro como no desenho "Os Jetsons" ou um presente em que, cada uma das ações – utilizar o smartphone para navegação, verificar o trânsito, as linhas de ônibus, o check-in e mesmo a promoção – não são somente operações técnicas, mas sim, novas formas de interagir com seu meio e com as pessoas, que modifica a maneira como entendemos e construímos o mundo.
A chamada 'Internet das Coisas' (IoT), termo cunhado por Kevin Ashton, do MIT em 1999, não possui um conceito claro ou único, mas podemos entender como outra forma de descrever uma rede de dispositivos, pessoas ou equipamentos interconectados. Uma vez conectados, os dispositivos podem enviar dados entre si ou para pessoas, que poderão analisar, escolher e manipular os dispositivos remotamente, conforme CASAGRAS (Coordination and Support Action for Global RFID-related Activities and Standardisation).
De maneira sucinta, a anunciada IoT descreve um futuro em que objetos banais – como um relógio ou mesmo sua geladeira – estão conectados à Internet e podem se identificar, bem como se conectar a outros dispositivos, enviando e recebendo informações, permitindo a interação homem-máquina, bem como máquina-máquina.
Tendo isto em mente, a Inteligência Geográfica, ou seja, a integração entre a Ciência Geográfica e as Tecnologias – em seu estado-da-arte – nos permite o desvelar não só do Território, mas o entendimento do Lugar. E, com isto, podemos cunhar o termo "Geografia das Coisas" (ou GIS of Things), que concretiza o que foi prenunciado pelo pai do GIS (Sistema de Informações Geográficas – SIG), o Geógrafo Roger Tomlinson em 1962. Ele afirmava que "quando você descobre a Geografia, você ganha um novo par de olhos"; e sabemos que esta relação não é somente homem-máquina: é uma relação cidadão-sociedade-tecnologia.
Unir Geografia e Tecnologia? Sim, essa é a nossa realidade e desafio atual – a Inteligência Geográfica quebrando paradigmas, trazendo fatos inéditos na história da humanidade, como nos relacionamos até mesmo com mapas: não é mais você que se procura nele, mas o mapa que se ajusta a você.
Contudo, como pontuei em 2012, no artigo 'Da Análise Espacial à Análise do Espaço: para além dos algoritmos' é necessário entender que "o período de apropriação das técnicas e tecnologias ligadas à chamada 'Análise Espacial' não poderia ser mais propício. A multiplicidade de sistemas sensores remotos (principalmente os orbitais, alguns financiados por empresas ligadas às grandes corporações de coleta, análise e consulta sistemática de dados via internet), a facilidade no uso de ferramentas cartográficas, em seus níveis mais elementares de manipulação de estruturas representacionais do Espaço Geográfico (pontos, linhas e polígonos) e a necessidade do homem do período técnico-científico-informacional em ser, estar e se localizar permitem os usos e abusos do Geoprocessamento".
Se antes falar sobre Geoprocessamento, SIG, Sensoriamento Remoto, Sistemas de Localização (como o GPS) era algo complicado que envolvia entender sobre configurações de hardware, software e estava restrito a um pequeno número de super especialistas, hoje as tais tecnologias – e geotecnologias – estão cada vez mais intuitivas e disponíveis no dia a dia de qualquer cidadão (como este da história acima) que acompanha desde a previsão do tempo até cria rotas de suas viagens, bem como das empresas e governos que devem ser apropriar delas para o entendimento, tomada de decisão e ações territoriais. Ou o lado obscuro: grandes corporações coletando dados sobre sua localização, sem informar ao usuário.
Estamos passando por mudanças na forma que trabalhamos e interagimos com as pessoas; vivemos a Era da Consumerização. Dispositivos, apps, aparelhos não são mais do seu escritório, mas estão com você – conceito que grandes empresas gostam de propagar: Bring Your Own Device (BYOD).
A Geografia das Coisas, na Era da Consumerização, vai muito além da Internet das Coisas: não estamos falando somente de uma rede de sensores e dispositivos interligados. Estamos vivendo uma nova maneira de integrarmos – e transformarmos – a sociedade, em que o protagonismo não é somente um desejo ou algo para a minoria: todos podem fazer parte desta Revolução Geoespacial.
E isto, muito além da pequena cena narrada início do texto, já tem trazido impacto positivo na vida contemporânea. Em um evento (hackaton) para desenvolvedores ocorrido em fevereiro de 2015, um dos projetos vencedores criou uma rede de sensores e análises espaciais em que, por meio de informações ambientais (como a quantidade de CO2), são traçadas as melhores rotas para navegação nas ruas, não baseadas somente em tempo ou distância, mas naquelas que impactam da menor maneira possível o ambiente. Vivemos a Geografia das Coisas, que amplia o horizonte da Internet das Coisas e dá humanidade à ela. Este é apenas um exemplo que revela o caminhar da sociedade em prol de um mundo melhor para nós mesmos e para o meio que nos cerca a partir de um entendimento e interação adequada com nosso território e tecnologias.
Abimael Cereda Junior, geógrafo e gerente de Educação e Treinamentos na Imagem, Especialista em Geoprocessamento, Mestre e Doutor em Engenharia Urbana, tem como área de pesquisa o desenvolvimento e aplicação de métodos e técnicas para análise espacial de dados geográficos, bem como o ensino de Geoprocessamento e em Inteligência Geográfica.
Fonte: convergecom
Fonte: convergecom
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