Pular para o conteúdo principal

Negócios sociais, a arte de fazer o bem e gerar lucro

Modelo empresarial ganha forma na Capital, mas ainda é incipiente


Um modelo de negócio difundido pelo economista Nobel da Paz Muhammad Yunus, de Bangladesh — país fronteiriço da Índia —, transformou a vida da artesã Eni Galdino da Rosa, moradora do Morro da Cruz, em Porto Alegre. Defensor de que o estímulo ao empreendedorismo é mais eficaz do que o assistencialismo para diminuir a pobreza, Yunus ficou conhecido, em 2006, como um visionário, ao fomentar os chamados negócios sociais, empresas lucrativas cujo objetivo principal é buscar soluções para questões sociais. O conceito chegou ao Morro da Cruz e à vida de Eni por meio da Colibrii, empresa porto-alegrense que tem o propósito de prover oportunidades para artesãs de comunidades em situação de vulnerabilidade social.

Eni já costurava, mas não conseguia atingir um grande público com os fuxicos que vendia na vizinhança. Em 2013, as sócias da Colibrii a procuraram e fizeram uma proposta: Eni seria parceira da empresa, que cria produtos com materiais alternativos e reutilizados e os vende on-line. A artesã entraria com o conhecimento de costura e a mão de obra, e as fundadoras da empresa contribuiriam com oficinas de gestão do negócio, design dos produtos e auxílio na produção. O lucro seria partilhado: 60% para Eni, 40% para as sócias da Colibrii. Proposta aceita, e um dos primeiros negócios sociais de Porto Alegre começava a funcionar.

Formada por quatro artesãs e as fundadoras da empresa, a Colibrii trabalha por encomendas e comercializa adereços como mochilas, bolsas e capas de pranchas de surf — todos feitos com materiais reutilizados — para consumidores individuais e grandes empresas. “Essa foi a forma que encontramos para fomentar o negócio em larga escala, por meio de parcerias com outras marcas”, explica uma das criadoras do negócio, Marília dos Reis Martins. As empresas parceiras da Colibrii vendem não só seus produtos, mas também seu conceito sustentável.

A relação das sócias com as artesãs tem muito pouco em comum com vínculos costumeiros entre patrões e empregados. Tudo é pensado em conjunto, desde a escolha do local de trabalho — cada costureira em sua casa — ao preço final dos produtos. Eni consegue ganhar entre R$ 1.500,00 e R$ 2.000,00 por mês. Por enquanto, o lucro das sócias com o negócio ainda é instável, mas a ideia, a longo prazo, é formar mais parcerias com outras marcas. Gerar renda e educação é a proposta do negócio social, e quem compra os produtos contribui com o empoderamento das artesãs do Morro da Cruz. “Ainda há muitas oportunidades de imersão de negócios em comunidades. Falta uma rede de conexão entre as empresas”, opina a empreendedora Marília.

A contadora Onília Araújo resolveu dar uma guinada parecida em sua vida e na da comunidade da Escola Nehyta Martins Ramos, no bairro Belém Novo, em Porto Alegre. Incomodada com a cultura assistencialista instaurada em muitas empresas e com a lacuna entre a educação ideal e a praticada na maioria das escolas, Onília e o parceiro Bruno Bittencourt fundaram o negócio social Escola Convexo. A proposta da empresa é atuar ao lado de escolas para promover oficinas extracurriculares, ensinando matemática, português e empreendedorismo, a partir de metodologias diferentes das usuais.

O projeto é sustentado por apoiadores, por meio de financiamento coletivo, que contribuem com R$ 10,00 por mês. “Não somos uma ONG, mas uma empresa autossustentável, com CNPJ. Não queremos que as empresas nos deem dinheiro para não pagarem impostos”, explica Onília. Além dos dois sócios, a equipe é formada por duas professoras. Apesar de estar estruturada como um negócio social e ser uma empresa, na comunidade da Escola Nehyta Martins Ramos, os fundadores da Escola Convexo se apresentaram como um projeto parceiro da escola pública. “O empreendedorismo para apenas ganhar dinheiro perdeu o sentido, mas, infelizmente, esse tipo de negócio não vai crescer na velocidade como deveria”, opina a contadora Onília.

Ainda é comum confundir o modelo de negócio social com projetos de organizações não governamentais. A constatação é do consultor em inovação social do Estúdio Nômade Daniel Caminha, que ministrou curso em Porto Alegre sobre o tema. Segundo o psicólogo e empresário, várias empresas que se posicionam como negócios sociais não têm rentabilidade. Para alcançar o ponto de equilíbrio entre fazer o bem e conseguir lucro, alguns empreendedores têm apostado em um híbrido de negócio social e empresa tradicional. A própria empresa de Caminha é um exemplo disso. O Estúdio Nômade gera projetos e fornece consultoria para pequenos e grandes negócios que podem ser provedores de transformação social. Ou seja, contribui para formar a estratégia de empresas que pensem em uma sociedade mais justa e, de forma indireta, incentiva a formação de negócios sociais.”

Júlia Lewgoy

Fonte: JC RS via Jurânio Monteiro

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O sol nunca deixa de brilhar acima das nuvens

Sempre que viajo e vejo esta cena fico muito emocionado. O Sol brilhando acima das nuvens. Sempre me lembro desta mensagem: "Mesmo em dias sombrios , com o céu encoberto por densas e escuras nuvens, acima das nuvens o Sol continuará existindo. E o Sol voltará a iluminar, sem falta. Tenhamos isto sempre em mente e caminhemos buscando a luz! Quando voltarmos os nossos olhos em direção à luz e buscamos na vida somente os lugares onde o Sol brilha, a luz surgirá" Seicho Taniguchi Livro Convite para um Mundo Ideal - pág. 36 Que super mensagem Deus nos oferta.  Você quer renovar a sua experiência com Deus?  Procure um lugar quieto e faça uma oração sincera a Deus do fundo do seu coração pedindo para que a vontade dele prevaleça em sua vida. Tenho certeza que o sol da vida, que brilha acima das nuvens escuras, brilhará também em você !!!

Sonegação não aparece em delação premiada, mas retira R$ 500 bi públicos

Empresário que sonega é visto como vítima do Estado OS R$ 500 BILHÕES ESQUECIDOS Quais são os fatores que separam mocinhos e vilões? Temos acompanhado uma narrativa nada tediosa sobre os “bandidos” nacionais, o agente público e o político corruptos, culpados por um rombo nos cofres públicos que pode chegar a R$ 85 bilhões. Mas vivemos um outro lado da história, ultimamente esquecido: o da sonegação de impostos, que impede R$ 500 bilhões de chegarem às finanças nacionais. Longe dos holofotes das delações premiadas, essa face da corrupção nos faz confundir mocinhos e bandidos. O sonegador passa por empresário, gerador de empregos e produtor da riqueza, que sonega para sobreviver aos abusos do poder público. Disso resulta uma espécie de redenção à figura, cuja projeção social está muito mais próxima à de uma vítima do Estado do que à de um fora da lei. Da relação quase siamesa entre corrupção e sonegação, brota uma diferença sutil: enquanto a corrupção consiste no desvio ...

A RESPONSABILIDADE CRIMINAL DO CONTADOR NO CRIME DE SONEGAÇÃO FISCAL

O ordenamento jurídico prevê diversos crimes tributários e, dentre eles, o delito de sonegação fiscal, consoante o art. 1º, da Lei 8.137/90, verbis : Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: I – omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias; II – fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal; III – falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro documento relativo à operação tributável; IV – elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ou inexato; V – negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente, relativa a venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordo com a leg...