Mesmo que a tradicional indicação “boca a boca” continue eficiente, profissionais sem vínculo empregatício se rendem às redes sociais e aos sites de divulgação para fisgar novos clientes e garantir sua permanência no mercado
Até pouco tempo atrás, a internet era totalmente ignorada por milhares de autônomos gaúchos que – com décadas de atuação no mercado e carreiras consolidadas – mal precisavam distribuir cartões de visita para garantir a agenda cheia de compromissos com clientes. Mas atualmente, o número de profissionais que tem se rendido à ideia de difundir o trabalho na rede mundial de computadores vem crescendo. Com iniciativas distintas e expectativas semelhantes, pedreiros, pintores, marceneiros, eletricistas, costureiras, arquitetos, decoradores, entre outros, buscam cada vez mais novos meios de divulgação no mundo virtual. Mesmo sem precisar aumentar a demanda, o objetivo é ser visto para permanecer sendo lembrado.
“Não tinha como ficar de fora disso: eu acabo usando muito a internet, envio orçamentos por e-mail, até por segurança, porque fica tudo registrado”, comenta o eletricista Rudinei Silva dos Santos, que hoje integra um grupo que se cadastrou no site Encontre Seu Profissional, no ar há cerca de um mês. Voltada para responder à busca de usuários que necessitem de serviços no território de abrangência de Esteio, Sapucaia do Sul e São Leopoldo, a vitrine online surgiu da iniciativa de uma empresa do ramo de ferragem e material de construção localizada em Sapucaia do Sul.
Após perceber que o balcão do caixa da loja estava abarrotado de cartões de visitas e de panfletos de autônomos ligados ao setor, o diretor da Ferragem Tamandaré, Ubirajara Garcez Barreto, concordou com a ideia do departamento de Marketing da empresa: estava na hora de criar um mural para organizar melhor os materiais de divulgação. Feito isso, logo ele percebeu que não foi o suficiente. Em pouco tempo, a estrutura criada, com gavetas em acrílico transparentes, já não dava mais conta da quantidade de folders e cartões de prestadores de serviços ali depositados. “Ficou pequeno para a necessidade de muitos de nossos clientes, que querem expor seu trabalho, e também das pessoas que buscam este tipo de profissional”, destaca Barreto. Daí, surgiu a ideia de criar um site sem custo para prestadores de serviços inserirem os seus dados para contato.
A ação foi bem recebida pelos profissionais da região, e, na primeira quinzena de julho, quase uma centena de contatos de profissionais vinculados à construção civil, já estavam no site. Santos, que trabalha na área de sistemas de segurança (cerca elétrica, circuito interno de TV e alarmes), com o sócio Josvanir Vale, está bastante otimista. “Vai demorar um pouco, até que as pessoas conheçam o endereço na internet, mas nossa expectativa é boa, até porque estar nesta lista significa ser – de certa forma – indicado pela Ferragem Tamandaré. É uma referência. E isso também é bom para quem busca um serviço, mas não conhece o profissional.” No mercado há quatro anos, o eletricista afirma que, apesar de acessar a rede para pesquisas e envio de orçamentos, não utilizava a ferramenta para divulgar seu trabalho. “Até então, a maior parte dos nossos clientes, cerca de 80%, vinha indicada por alguém”, conta. Apenas 20% entravam em contato por ter tido acesso ao cartão que Santos disponibiliza em ferragens.
“Tem muito instalador por aí – e quem não é visto não é lembrado”, opina o também eletricista Maicon Luis Godoy. “Quanto mais eu aparecer na internet e em materiais impressos, como folders, mais gente irá me procurar para fazer orçamentos e fechar negócios”, completa Godoy, que trabalha com instalação de ar-condicionados e de chuveiros elétricos em Sapucaia do Sul. Cliente antigo da Ferragem Tamadaré, Godoy diz que a empresa costumava realizar indicações “quase que diárias”, feitas pelos próprios atendentes da loja, de forma espontânea.
Cresce demanda de orçamentos por e-mail
A costureira Maria Lúcia Fuminsky acaba de comprar um computador para se adequar a uma demanda cada vez mais comum. “Hoje em dia, as pessoas solicitam que seja enviado um orçamento por e-mail.” No ramo há mais de 30 anos, ela admite que demorou para decidir divulgar seu trabalho, porque o esquema da indicação “boca a boca” sempre foi o principal meio de conquistar novos clientes nas duas primeiras décadas de profissão. Isso explica porque ela só passou a ter cartão de visita em meados dos anos 2000. Até hoje, mesmo com cartão em uso, a recomendação de um cliente para outro ainda é o carro chefe quando o assunto é garimpar espaço no mercado, garante a costureira.
“As pessoas costumam sugerir o serviço de um autônomo que conhecem para parentes e amigos, e isso tem sido suficiente no meu caso. Acordo diariamente às 3h, e só paro de trabalhar em torno das 19h”, diz Maria Lúcia. Mesmo assim, ela se propôs, aos 63 anos de idade, a garantir sua presença na internet, indo além de um simples endereço de e-mail, ferramenta com a qual só foi se preocupar no início deste ano. “Caso contrário, vou ficar muito fora da realidade”, avalia a costureira, que também tem planos de criar um blog, com a ajuda da neta. “Já estou juntando algumas fotos para poder colocar meu trabalho na rede, mas não sei se vou dar conta”, pondera, referindo-se à falta de habilidade com a máquina e o mundo virtual.
Na opinião de Maria Lúcia, para quem já tem clientes cativos, a questão da internet também está vinculada a se ter um espaço onde é possível expor um portfólio de forma prática e acessível. “Além disso, ouço sempre que é muito difícil se conseguir uma costureira, que só se encontra uma com indicação. Então, para aquelas pessoas que estão começando neste mercado e não têm muitos clientes é muito bom usar esta ferramenta. Hoje em dia, tudo está na internet”, pontua.
Para o arquiteto Vagner Gonçalves Wojcickoski, que utiliza o Facebook e aderiu ao site Encontre seu Profissional há cerca de um mês, apesar de a rede mundial de computadores servir para cada vez mais prestadores de serviços de todos os ramos marcarem presença na memória dos usuários, há um inconveniente que não se deve esquecer: só um anúncio não garante que o cliente possa discernir qual é o melhor profissional. “Existem pessoas que não têm formação adequada e que oferecem serviços que, na prática, acabam sendo de má qualidade.” Por isso mesmo, a decoradora Ana Maria Lucas da Silva, que também aderiu ao site com abrangência em Esteio, Sapucaia e São Leopoldo, acredita que o fato de a ferramenta ter sido criada por uma ferragem deverá ser mais eficiente no sentido de passar credibilidade ao cliente que procura um autônomo na área de construção civil.
“Quem está na lista deste site está vinculado a uma indicação da Ferragem Tamandaré, ao contrário de outros endereços na web que simplesmente divulgam os dados de quem anuncia”, compara Ana, que, nos últimos oito anos, investiu em cartazes, flyers, anúncios na internet e na mídia, página do Facebook e até em sistemas de monitores inseridos em locais com circulação de pessoas. Ana acredita que a internet deveria ser melhor explorada pelos autônomos. “Conheço profissionais ótimos que ainda não estão na rede.”
Para a arquiteta, uma vantagem do site proposto da região do Vale dos Sinos é que o cadastro é gratuito. “Ao contrário dos demais, não precisa pagar para estar ali, é uma ferramenta com o único intuito de facilitar o acesso a quem procura profissionais, bem como dar mais visibilidade ao segmento na internet.” O Encontre seu Profissional funciona como um banco de dados com as informações inseridas pelos próprios autônomos, com nome, telefone, referências e a especialidade, reforça a diretora de marketing da Ferragem Tamandaré, Karen Piva, idealizadora da iniciativa. “Este mercado estava perdido.”
Ana
Maria considera positivo ser indicada por meio da ferramenta criada
pela
ferragem. ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
Fidelidade da clientela garante trabalho para veteranos
Mesmo que a era digital se expanda para o dia a dia de muitos profissionais, entre os autônomos, o uso da internet ainda não é unanimidade. O eletricista Valmir Campos, no mercado há 50 anos, garante que nem de cartão de visita ele precisa. “Funciono só na indicação”, diz Campos, que diariamente acorda às 5h30min para se deslocar de Viamão a Porto Alegre, onde cumpre jornada de trabalho que termina em torno das 20h ou 21h. “Estou sempre cheio de serviço, tem gente me aguardando para agosto, todo dia tenho algo para consertar, e vai de um cliente para outro, não paro”, conta o eletricista.
Antes de ganhar a vida como autônomo, Campos trabalhou 25 anos com telecomunicações “Depois que me aposentei, comecei divulgando o serviço dentro da empresa e se alguém precisava, ia me chamando – dali, um foi indicando para o outro”, revela o eletricista, que conta com uma grade de cerca de 300 clientes. “Todos fiéis”, destaca. “Ser correto sempre” é o segredo, opina o profissional de 68 anos. Trabalhando com fios de baixa tensão, ele realiza reparos ou implementa rede elétrica em residências e estabelecimentos comerciais, prepara a voltagem para entrada de ar-condicionado tipo split ou para telefonia. “Faço apenas aquilo que domino plenamente. Para coisas mais pesadas, indico outro profissional de confiança.”
Bem disposto ao trabalho, Campos utiliza um carro no qual sempre leva escada e ferramentas, seja qual for o destino. Isso explica porque volta e meia está em uma festa, e de repente se vê buscando um disjuntor ou mexendo em resistências de chuveiro elétrico. “Assim, nunca perco trabalho”, explica. Segundo ele, há algum tempo foi procurado para divulgar seu trabalho na internet. “Não me interessa, assim está ótimo. Se eu anunciar na rede e vierem mais clientes, não vou dar conta.”
Portfólio inserido em blog é tendência
O marceneiro Edson Carvalho Brodt decidiu quebrar as barreiras que o separavam do mundo virtual há três anos. Inicialmente, passou a divulgar em sites de busca na internet, para, em seguida, tomar a iniciativa de criar seu próprio blog (a exemplo de outros profissionais que também divulgam fotos do trabalho que realizam). Isso não o impediu de continuar investindo na confecção de cerca de quatro mil panfletos por bimestre, para distribuir em caixas de correspondências de prédios espalhados em bairros da área central e zona Sul da Capital. “Por meio da panfletagem, divulgo o blog, e lá o cliente visualiza meu trabalho”, explica Brodt. Satisfeito com os resultados da estratégia, ele garante que precisa, sim, da ajuda da internet. “Facilita muito, inclusive para o cliente, que pode decidir com mais confiança. As fotos dos produtos que criamos dão mais credibilidade.”
Situado no bairro Glória, o local onde Brodt desenvolve móveis sob medida e concerta demais objetos de madeira, é chamado por ele de “o pronto socorro do lar”. Ali o marceneiro trabalha sozinho, ou – quando necessário – com ajudante fixo. “Às vezes, é bem corrido. No inverno, as pessoas resolvem arrumar o que têm. Já no verão, o movimento reduz bastante”, conta. Segundo ele, o panfleto funciona melhor do que o “boca a boca”, mas a indicação também rende trabalho. “A maioria dos nossos serviços é conquistada via panfletagem. Só não tenho divulgado mais porque, se largar material além do volume habitual, não daria conta do serviço”, garante.
Adriana Lampert
Fonte: JC RS via Jurânio Monteiro.
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