Por Marcos Cintra
Nos últimos anos o Brasil
assimilou a necessidade de simplificar seu caótico sistema tributário. Juntar vários
tributos em um tem sido uma ideia difundida no País e as bases propostas para
isso são o valor agregado e a movimentação financeira.
Os adeptos do imposto único
sobre o valor agregado (IVA) dizem que o problema da unificação sobre a
movimentação financeira (IMF) é a cumulatividade. Mas, estudos revelam que esse
não é o problema a ser enfrentado na construção de um novo sistema tributário
para o País. As distorções nos preços relativos provocados por um IMF são bem
menores que as causadas por um IVA. O foco das preocupações do administrador
público deve ser a eliminação da sonegação, a redução do custo operacional e a
ampliação da base tributária imponível.
Os economistas do BNDES,
José Roberto Affonso e Érika Araújo, são defensores do IVA, mas afirmam no
estudo “Carga Tributária. Tributação das vendas: evolução histórica (ou
involução)” que os tributos cumulativos “são mais fáceis de serem cobrados e
serem pagos…”, ao passo que os sobre valor adicionado são “mais complexos de
serem apurados e mesmo compreendidos”.
Em sua argumentação contra
os impostos cumulativos, os autores dizem que os tributos cumulativos são “os
mais danosos à competitividade da produção nacional, pela dificuldade em
eliminar integralmente sua incidência sobre um bem exportado e pela vantagem
que oferecem às importações que, em regra geral, não se sujeitam ao mesmo
tratamento no país de origem”.
No tocante a essa observação
é interessante notar a reação do professor José Alexandre Scheinkman, da
Universidade de Princeton, ao proferir palestra em 2011 sobre competitividade
comercial e harmonização tributária. Disse ele: “competitividade é uma noção
que não faz nenhum sentido para um país como um todo. Todos os países têm maior
competitividade ou menor competitividade em produtos diferentes”. E
complementa: “a idéia de que a estrutura tributária… afeta a competitividade, a
meu ver não faz sentido”.
O professor Scheinkman
demonstrou em sua apresentação que os fatores que deprimem a produtividade em
uma economia são a evasão e a economia informal. Se o sistema tributário induz
altas taxas de sonegação e elisão, a produtividade deixa de guardar correlação
com os investimentos em tecnologia e com eficiência administrativa e gerencial.
Uma empresa de baixos custos de produção pode não ser “competitiva” frente a
outra que sonegue os tributos, ainda que os custos de produção da empresa
sonegadora sejam mais elevados. Isso estimula a sobrevivência de empresas
ineficientes e deprime a produtividade econômica do país. Em outras palavras, a
remoção da cumulatividade não aumentará a produtividade da economia, pois dela
resultarão aumentos das alíquotas dos impostos convencionais e, portanto, maior
sonegação.
O grande vilão do sistema
tributário atual no Brasil não é a cumulatividade, mas sim a sonegação
resultante da complexidade e das altas alíquotas implícitas nos modelos
tributários declaratórios. O IVA perpetua essa situação, ao passo que o IMF,
mesmo cumulativo, combate essa anomalia.
Marcos Cintra é doutor em
Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente
da Fundação Getulio Vargas.
www.marcoscintra.org /
mcintra@marcoscintra.org
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Compartilhando idéias e experiências sobre o cenário tributário brasileiro, com ênfase em Gestão Tributária; Tecnologia Fiscal; Contabilidade Digital; SPED e Gestão do Risco Fiscal. Autores: Edgar Madruga e Fabio Rodrigues.